quinta-feira, 1 de julho de 2010

Alex Kidd e o castelo encantado


Não gosto de perder. Sou estupidamente competitiva e tenho a mania que tenho de ser a maior. Sempre que se afloram defeitos e dou de caras com os meus erros, imperfeições e outras coisas menos cândidas, espumo um bocadinho pelos cantos da boca e tremo de nervos, dando ares de epiléptica. Pronto, estou a exagerar. Mas fico enervada e tenho vontade de me bater.
Como tenho um pedacinho de amor-próprio, consigo escapar à auto flagelação – pelo menos física, porque a mental já tem estatuto de passatempo – e canalizo essas más energias noutras pessoas.

Por exemplo, lembro-me perfeitamente: uma vez eu e o meu primo que andava sempre lá em casa estávamos a jogar Alex Kid na Master System

(esperem que agora estou a respirar como deve de ser para digerir melhor esta recordação tão emocional. É que eu e a Master System tínhamos uma relação que não era relação. Era comunhão. Já agora aproveito para dizer que o nível de coolness de um jovem pode ser estimado na base da relação de companheirismo que manteve/ mantém com Sonic ou com o Super Mario. A Lara Croft é para sapatonas e pervertidos.)

Então, estávamos a jogar em mode competition e eu estava a ganhar por um nível de avanço. E estava o Alex Kid com o seu ar extremamente macaco-maricas-garcia-bernal,

(eu se estiver bem disposta, consigo ver o Garcia bernal até num papo-seco)

comandado por mim, a tentar o tudo por tudo naquele reino.
Ora escorria-me já um fino fio de baba devido à tensão idiota da minha língua espetada contra o canto da boca, quando falha o meu jogo de polegar e pum!, acabou-se a última vida e a aventura naquele nível onde nunca tinha estado e que tanta adrenalina me estava a dar em generosas doses.
Imediatamente, tal como o Marco pontapeou a Sónia, eu pontapeei a consola, mas não me senti minimamente satisfeita e por isso comecei disparar impropérios ao meu primo “e a culpa é toda tua seu estúpido! Seu batoteiro de merda, tocaste-me no braço e eu não deu para fazer o truque das setas esquerda-direita-esquerda, seu parvalhão!! Vais comê-las!!”

Não lhe pude empregar qualquer tipo de sanção física, porque assim que se deu o pontapé do Marco na Master System já o pequeno ia longe - ele tinha a perna curta mas eu era gorda, de maneira que mais valia usar a inteligência que me é característica.

Chorei um bocadinho em silêncio mas durou pouco. Tentei almoçar tranquilamente enquanto a poeira assentava. À tarde, já estava muito mais serena, embora com um olhar doentio (eu sei porque fui ao espelho rever o discurso que preparei).

Assim que me calhou apanhei-o e disse-lhe que ele era sopinha de massa e que aquele dentes não tinham solução e que ele era adoptado... bem!!!! Quando eu lhe disse que ele era adoptado... vou vê-lo desatar num berreiro:
- Nãaaaao! Nãaao sou nada sua estúpida!!
- Priminho, és sim. Porque é que achas que a tua irmã tem muito mais fotografias, por exemplo? …Eu sei que custa muito, é difícil…quer dizer, deve ser. Os teus verdadeiros pais morreram…e os tios com pena de ti, adoptaram-te. Mas pronto, nós gostamos de ti na mesma…
(apliquei o velho truque para marejar os olhos que é não pestanejar, doa o que doer)
O pequeno, coitadinho, começou a espernear como se o tivessem a matar, desceu as escadas até à cozinha e abafou os gritos no colo da minha mãe. Contou-lhe tim-tim por tim-tim o que lhe fora dito, enquanto eu ouvia o relato no corredor e reprimia a vontade de urinar as calcinhas, tal era o medo da colher de pau que havia de assentar repetidamente no meu lombo, pernas, cu – onde calhasse.

E calhou, efectivamente, calhou e em vários sítios. Levei uma grande coça. Não me serviu de muito, porque continuo com muito mau perder, mas pronto.

Só fiquei a ganhar numa coisa, a minha tia nunca mais o mandou pra minha casa! Raio do gaiato! O meu pai levava-o pro café e a mim não, so porque ele era rapaz!... ;(
Pra castigo do meu pai, eu virei uma tasqueira e o meu primo continua aquele cebola com cara de carneiro mal morto!

Foudasse que á conta disso nunca mais suportei o gaijo!

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