sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A vida dos outros é melhor do que a minha?!




A perfeição não existe. Não vos digo a maior novidade deste mundo e apenas o faço no tom de uma milésima constatação. Contudo, tal não nos impede de aspirarmos a mais e melhor, por vezes num eterno e infrutífero esforço perfeccionista. A nossa vida é sempre a mais difícil e complicada. A mais penosa e injusta. Porque, como se costuma dizer, cada um sente as suas. Mas em momentos de auto-consciência ganho noção que, de facto, a vida poderia ser pior e de que cada dia é uma bênção. Estas epifanias esgotam-se mesmo nesses instantes. Porque no resto do tempo, a vida dos outros parece sempre mais perfeita. Ouço histórias de pessoas cujos passos são sempre pouco dados ao respeito para com os outros. Cujas vidas, atitudes, assentam em valores tão diferentes dos meus. Diria até que não assentam em quaisquer valores, mas num olhar para o próprio umbigo. E a vida parece passar por elas, de forma feliz e despreocupada. Sem quaisquer consequências. Como se todos os dias fossem passeios impunes. Jogam, traem, sabotam, dissimulam, falsificam, descartam quem lhes pode querer bem. Nada disso parece importar. Nada disso parece ser notado. A vida segue feliz e airosa e nós assistimos de camarote a representações bem sucedidas em que não se tropeça no tapete. Mas não me interessa e não me cabe a mim dizer o que é certo ou errado para as mesmas.
E agora? Cada um ter o que merece é a desculpa mais esfarrapada e conveniente que alguma vez se arranjou. Todos temos coisas que merecemos e coisas que não merecemos de todo. Seja bom ou mau, a distribuição das mesmas parece-me ser questão de sorte e não de justiça. Nós, que estamos do lado dos "bons", arregalamos os olhos e pensamos, como é possível?! Onde está a nossa quota-parte de felicidade no meio deste mundo? De que nos serve a compostura, o bom senso, a sensibilidade, o dar a outra face? Se no final de contas, o que recebemos são esmolas em proporção àquilo que damos. De que nos serve não jogar sujo? De que nos serve ser boas pessoas? A mim serve-me para algo mais importante que tudo. Para a minha capacidade de me emocionar, de me comover, de ter "pontos altos" do dia com coisas que parecem ser absolutamente medíocres. Para saber que por não fingir que sou outra não engano ninguém e, sobretudo, não me engano a mim mesma. Mas espanta-me, continuamente, a infinita capacidade para nos desiludirmos. Se há uma grande facilidade em criar ilusões, mais facilmente elas se desmoronam. E nos meus acessos de raiva e tristeza, eu pergunto-me qual é a repercussão de tudo o que dou e sou? Onde estão os dedos que me desfazem as lágrimas? Onde está o reconhecimento de quem somos e a valorização do que conseguimos dar? Não. Não existe justa retribuição. Mas eu não quero fazer parte desse mundo. Não quero virar para o lado dos maus, dos lobos com pele de cordeiro.
Para o amor, o meu coração fechou a porta. Mas continuo a ter laivos de ingenuidade e inocência que me fazem acreditar. Não sei em quê. Mas acreditar que há mais que isto. Que um dia se alguém me vir chorar vai dizer que tudo vai ficar bem e não me vai deixar cair. Quem um dia me irão conhecer tão bem que as minhas atitudes não precisarão de ser esmiuçadas em busca de significados ocultos. Porque o que eu mais quero e posso pedir é que não façam comigo aquilo que eu nunca faria.
Por isso, quando vou por aí e vejo as vidas dos outros...pergunto-me se é tão fácil como parece. Se por trás das mãos dadas e dos risos nos bancos à beira-mar existe algo obscuro. Acredito que não. Acredito que para muitos a vida corre de forma tão natural e espontânea como o percurso de um rio.
E se é fácil...eles não podiam ser mais felizes e não sabem.

[inspirei-me em ti F.]

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